Relato do parto natural pelo SUS

Olá meus queridos!

  Nos desculpem a ausência e demora em postar um novo assunto.
  Hoje gostaria de compartilhar com vocês como foi o meu parto normal pelo SUS de São Paulo!

  No dia 12 de novembro de 2015 eu entrava na 40ª semana de gestação e chegava a lua nova para trazer nosso Davi ao mundo. Nesta virada da lua eu estava determinada a fazer tudo o que fosse possível para induzir o parto, então fui pra rua e caminhei durante aproximadamente uma hora sob a luz do luar, massageando a barriga e conversando com o Davi pra que ele viesse logo porque a mamãe já estava cansada de sofrer com o calor e o desconforto do barrigão. Não me julguem! É uma época realmente maravilhosa e mágica, gerar um bebê é uma benção de Deus, mas estar grávida, aliás, estar super grávida no calor que estava é insano. Grávida não acha posição pra dormir, se cansa com o calor, se cansa em dobro por carregar outro ser dentro dela, grávida soma algumas assaduras em locais bem incômodos, não enxerga o pé e não consegue calçar praticamente nada, entre outros desconfortos... enfim...



  Durante a madrugada comecei a sentir dores, eram 2:30h da manhã e não tinham ritmo nenhum, vinham a cada 20 minutos, 30 minutos, 18 minutos, enfim... Não consegui dormir mais por causa das dores e principalmente por causa da ansiedade. A Bianca, nossa filha mais velha veio ao mundo através de cesárea agendada pois ela estava na posição transversa, por este motivo a ansiedade era imensurável. As dores eram tranquilas, totalmente suportáveis sem precisar se desesperar nem fazer careta.
  As 12:30h eu comecei a sangrar, mas fiquei tranquila, as dores ainda não tinham tomado ritmo, somente estavam aumentando a intensidade se assemelhando agora às cólicas menstruais, porém eram rápidas e com grandes intervalos entre elas, decidimos então que era hora de irmos pro hospital. Fomos ao Hospital da Cachoeirinha e chegando lá por volta de 13:30h, no exame de toque eu estava com apenas 3 dedos de dilatação, o cardiotoco apresentou contrações e que os batimentos cardíacos do bebê estavam bem, o médico que me examinou disse que não poderia me internar pois eu deveria esperar chegar a pelo menos 5 dedos de dilatação e pegar um intervalo regular e ainda, o hospital estava lotado e eles me remanejariam para outro lugar.
  Eu tinha como opções os hospitais da Cachoeirinha, Santa Marcelina e Sapopemba, pelo pré parto individual e humanizado que os dois hospitais oferecem. Pedi autorização para ir a um dos hospitais que eu tinha preferência, pois o hospital para o qual eles iriam me remover não possui a estrutura que eu desejava. Como ainda haviam algumas horas até que o trabalho de parto evoluísse a ponto de ser possível internar o médico me liberou para eu me dirigir até a maternidade que me fosse mais adequada.



  Fomos ao Hospital Estadual Sapopemba e fomos atendidos imediatamente, ao chegarmos lá as contrações vinham de 7 em 7 minutos e no exame de toque estava com dilatação de 5 dedos já, fomos internados. O Hospital nos acomodou em uma sala de pré parto individual equipada com banheiro privativo, bola (aquelas de pilates), cama (de hospital) e um equipamento que eles chamam de cavalinho. Já acomodada a obstetra e a enfermeira perguntaram se podiam estourar minha bolsa, eu autorizei, a partir deste momento a brincadeira ficou séria. As dores começaram a vir mais fortes e com intervalos cada vez menores, a partir daí já não sabia mais que horas eram.





  Meu marido e eu ficamos sozinhos no quarto com toda a privacidade que precisávamos, tomei um banho e ele massageava minhas costas como a obstetra ensinou, me ajudou bastante. Comecei a sentir vontade de fazer cocô e a enfermeira me disse que eu não poderia sentar no vazo, pois neste ponto qualquer força que eu fizesse poderia expelir o bebê. Eu comecei a sentir muitas dores no corte da cesária e na minha opinião, as dores se tornaram quase insuportáveis por causa da cesária. A enfermeira veio colocar ocitocina sintética na veia para "acelerar" a dilatação, mas se as contrações estavam difíceis vindo de 3 em 3 minutos, com a ocitocina na veia não tinha mais os 3 minutos de intervalo para eu poder respirar e viver. Pedi para que desligassem aquilo e meu pedido foi atendido.



  Sentei no cavalinho e comecei a balançar para aliviar a dor e realmente me ajudou bastante este equipamento, tentei a bola mas não encontrei posição para que me desse o alívio que senti no cavalinho. A cada contração que eu sentia meu corpo pedia pra eu fazer força, pra mim, era a única maneira de aliviar aquela dor que eu sentia e parecia que nunca teria fim.



  Durante toda a minha gestação eu insisti que queria parto normal, todos os médicos do plano de saúde não se mostraram muito animados com minha decisão, inclusive o médico que havia feito o parto da Bianca falou em cobrar pela equipe e pela taxa de disponibilidade, tínhamos um plano de saúde que "quebrou" quando eu estava grávida de 34 semanas, neste momento todo meu planejamento ia por água abaixo, os planos que disponibilizaram para fazermos portabilidade era o dobro mais caro, com uma rede credenciada ridícula e não cobriria o parto, pois era o único procedimento que a carência não seria portada. Mas Deus sabe o que faz, pois se tivesse permanecido no plano de saúde provavelmente estaria fazendo o relato do meu segundo parto cesário.
  Pois bem, depois de 9 meses afirmando e reafirmando que eu queria um parto natural, sem intervenções, lá estava eu as 22:00h do dia 12 de novembro, após 19:30h de trabalho de parto implorando por uma cesária ou pelo menos uma anestesia peridural. Peguei meu marido rindo de mim! Acreditem! Rindo! Eu quase soquei ele de tanta raiva! Porque pra uma mulher que insistiu tanto que queria um parto sem intervenções ali estava eu, no auge da minha fraqueza implorando por uma anestesia ou até mesmo uma cesária. Mas depois de eu gritar com ele, pacientemente ele começou a me acalmar, dizendo que eu era forte, que eu conseguiria e que valeria a pena.
  Eu achei que não gritaria de dor, achei que passaria por tudo isso com a fineza de uma princesa, mas eu gritei como uma louca, pedia pro Chris fazer parar a dor, gritava que não queria mais o parto normal e xingava mentalmente todas as enfermeiras e médicas por não me ajudarem em nada. Mas a equipe do hospital foi sensacional, todas muito educadas, pacientes e gentis comigo o tempo todo. Trocaram minha roupa de cama umas 3 vezes, vinham ver como eu estava a cada hora e me deram total privacidade. Pude andar pelo quarto, entrar no chuveiro outras vezes, deitar, sentar, levantar...




  Quando era pouco mais de 23:00h a enfermeira obstetra disse que já podíamos iniciar o processo de expulsão do bebê, pois a dilatação já estava nos 10 dedos necessários, chamaram a equipe para o procedimento: auxiliar de enfermagem, obstetra, enfermeira, neonatologista e mais duas mulheres que eu não sei quem eram e nem me lembro do rosto de ninguém. Nesse momento ligaram a ocitocina novamente, pois devemos fazer força somente quando vem a contração e eu comecei a fazer força como se minha vida dependesse disso. Após uns 20 minutos fazendo força a médica perguntou se poderia fazer uma episiotomia, mais tarde o Chris me disse que viu o bebê quase sair e voltar por falta de passagem no períneo, e eu quase gritei: "FAZ LOGO PELO AMOR DE DEUS!", mas me contive com um simples aceno com a cabeça. 
  Eram 23:40h quando o Chris chegou do meu lado e disse: "Amor, acelera aí porque se não o Davi vai chegar na sexta-feira 13!", ahhhh... Não mesmo! Vai sair é agora! E fiz força uma vez e saiu a cabeça, fiz força mais uma vez e saiu ele todo!
  Como mágica a dor passou! Só sentia um cansaço absurdo e ouvi ele chorando, eu estava exausta e quase desfalecendo quando a obstetra perguntou se eu queria segurá-lo no colo. Eu me esforcei e sorri, disse que sim, pois todo aquele sofrimento foi para que neste momento eu pudesse segurar meu bebê no colo, sentir a pele dele ainda úmida do líquido amniótico, ver o cordão pulsando e poder amamentar ali. Ela me entregou um bebê lindo, japonês, chorando e no meio da minha vista embaçada de cansaço pude ver o olhar curioso de toda equipe, a neonatologista se ofereceu pra bater umas fotos nossa daquele primeiro momento. 




  Meu Chris foi o parceiro que eu precisava, foi minha doula, foi paciente, registrou todos os momentos que pôde, me encorajou, me deixou apertá-lo, gritar com ele, me amou naquele momento em que não era possível ser amada por mais ninguém. A equipe do Hospital foi impressionantemente atenciosa e calorosa. Jamais esquecerei do atendimento que eu tive num hospital público. Num próximo post eu conto sobre as instalações da internação do hospital, da recuperação e de todo o tratamento que recebemos no Hospital Estadual Sapopemba.
  Foi uma das experiências mais dolorosas e felizes da minha vida e Deus foi tão lindo que cuidou pra que tudo corresse como eu queria. Davi chegou medindo 50,5 cm pesando 3,485Kg.

  Obrigada pela paciência de ler até aqui, fiquem com Deus e até a próxima!

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